sábado, 13 de novembro de 2010



Vejo você passando e a mesma coisa acontece, o mesmo tremor nas minhas mãos. Me coloco logo atrás de uma vitrine pra poder ver você caminhando pro colégio.
Não sei mais quantas vezes eu fiquei aqui nessa esquina, esperando você passar. As vezes seu pai dá carona, e tudo que eu posso ver é você por um instante, ou um pouco mais se o sinal estiver fechado.
Cada dia eu prometo que vai ser diferente, que eu vou juntar a coragem toda que eu nem tenho e falar com você. Penso em todos os jeitos de começar uma conversa, desde os mais idiotas até coisas que nem eu acredito que fui eu mesmo quem pensou. Penso em coisas como dar flores a você e dizer que elas passam vergonha ao seu lado, mas você poderia rir e me achar antigo ou tolo. Penso em fazer alguma coisa dramática, ser atropelado na sua frente, sei la, e talvez assim agente ficasse se conhecendo. Penso em lhe dizer que hoje está uma manhã linda e que eu adoraria caminhar com você até o seu colégio, que talvez agente pudesse só conversar, sei lá, falar do tempo, falar do último disco da sua banda preferida, que eu também comprei só pra poder imaginar você ouvindo.
Mas eu sei que não vou conseguir, porque eu sou tímido demais, porque eu vejo você saindo com alguns garotos depois da aula, e eles sempre são do tipo que fazem esportes…
Eu sou muito diferente deles e acho que não ia fazer nenhum sucesso com você. Será que algum deles já escutou Sonic Youth? Algum deles já leu poemas do Fernando Pessoa? Você já leu os da Sylvia Plath? Eu poderia ler um deles pra você, ou você ia achar isso tolo?
Você é uma rainha pra mim, e eu fui me apaixonar logo por você. Eu devia ter olhado para o outro lado, pra alguém que me olhasse, mas alguma coisa aconteceu e eu fiquei assim.
Lá em casa, minha mãe me olha e fica preocupada. Pensa em porque eu ando perdendo peso, pensa que eu posso estar usando drogas pesadas, sei la o que pensa mais, só não pensa o óbvio. Que eu vi esta garota e, desde que isso aconteceu só consigo pensar nela, olhar para ela e mais nada.
Acho que isso não é coisa pro nosso tempo, é coisa para aqueles poetas antigos, que ficavam sofrendo e pegavam tuberculose e morriam de amor. Hoje agente sofre um pouco, entra no primeiro McDonald’s e, quando sai de lá, já não sente mais nada. Só que eu não sou assim.
Você passa e segue com seu jeito de caminhar. Você não olha para o lado, não vê ninguém. Mesmo que eu te seguisse de perto, você não veria. Eu amo o jeito que você mexe no seu cabelo, o jeito que obssessivamente arruma sua franja que está quase sempre no olho. Fiz fotos de você, pra poder olhar em casa. Coloquei todas na parede, e fico sonhando.
Essa roupa de hoje é nova. Você ficou muito bem nela, mas você sempre fica bem, até mesmo nas sextas-feiras quando tem aula de ginástica no primeiro período e vem de agasalho e tênis. Nunca cheguei perto para ver se os seus olhos são verdes, castanhos, azuis ou pretos, pra mim tanto faz. Só queria poder olhar para eles, e que eles me vissem de um certo jeito.
Acho que vou aceitar o convite para ir morar um ano nos Estados Unidos. Ou vou arranjar um emprego nesta esquina e passar os dias esperando você passar…
Agora você já se foi, e eu não tenho mais o que fazer aqui. Ir para a casa, pra guerra, ir até o porto e ir embora em um daqueles navios, tanto faz agora. Pelo menos ontem ganhei um livro novo com poemas do Fernando Pessoa. Posso ler, e talvez eles tenham alguma coisa pra me dizer, que me faça sentir melhor.
Alguém disse que era bom agente estar apaixonado. Esse cara nunca esteve apaixonado, nunca. Eu também não sabia o que era isso, mais eu era muito garoto, agora é diferente. Quem disse que era bom não entendeu nado do assunto.
Eu era um garoto normal, com uma vida normal. E aí aconteceu isso. Tive que dizer pra garota que eu estava namorando e que não podia sair com ela. Bebi Red Label pela primeira vez e acordei no pátio da minha casa, com uma dor de cabeça horrível, achando o mundo um péssimo lugar. Tudo isso por você, que nem sabe que eu existo.

— insônia

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